quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O retorno às ruas contra o racismo, denunciando o genocídio negro pro mundo.

Vejam matéria sobre o tema Racismo discutida em Sala de aula

POR KATIARA OLIVEIRA

"Nas margens da cidade vejo um camburão.
Protegendo a propriedade à mando do patrão
Tratando preto ainda como escravo fujão
Advinha quem provoca nossa divisão?"
Katiara [1]



       Recentemente circulou um post com uma foto de uma coluna de jonal impresso [2] nas redes sociais no qual uma menina negra de 10 anos, chamada Kauane, solicitava ajuda financeira para poder realizar seu sonho, que seria o alisamento de seu cabelo, pois seus pais não tinham condições de pagar este procedimento estético. A notícia fez-me refletir sobre as diferentes maneiras, diretas ou indiretas, de se destruir um povo e, por isso, a relacionei com um trecho de uma das canções do grupo de rap Racionais MC's: “É a nossa destruição que eles querem; física, mentalmente, o mais que puderem”. Postei um comentário no post, efetuando esta associação entre este rap e práticas genocidas, ressaltando as semelhanças, diferenças e a relação dialética entre a destruição física e mental de um povo e destacando ainda a hibridização do racismo em nossas relações sociais cotidianas.  
         O motivo da garota desejar tanto este procedimento estético torna-se mais inquietante ao constatarmos que, em sua fala: “...sou negra e sofro bullying dos meus colegas” que a palavra “bullying” oculta e mascara a causa real do seu sofrimento, que é o racismo. A ocultação e descaracterização de situações racistas por meio da utilização de certos termos, como bullying ou injúria racial, configura-se como uma estratégia da ideologia burguesa de ressiginificação de atos discriminatórios que ocorrem diariamente em diferentes espaços, dentre eles em instituições estatais, como as educacionais. Um agravante é a resposta à essas discriminações que nos leva a questionar o porque não é assumido como racismo.
         A solução apontada no texto do jornal é a adoção de um tratamento estético que irá mascarar os traços africanos da menina. Tal “solução” reafirma, reforça e naturaliza o ideário racista que postula a superioridade e os valores de uma determinada raça, no caso a branca, sob as demais. A solução apontada no texto do jornal, é a adoção de um procedimento estético que irá mascarar os traços africanos da menina, naturalizando dessa forma seu sofrimento. Essa supervalorização da estética branca, reinvindicada por uma criança negra, e sua família, com apoio da mídia e muitos de seus leitores, evidencia o poder da ideologia racista e, também, caracteriza-se como uma das manifestações do processo de genocídio perpetrado contra o povo negro.
         Embora o genocídio de um povo seja comumente identificado como um processo de extinção física de uma determinada raça ou etnia, (como ocorreu com alguns povos nativos e como vêm ocorrendo com o povo palestinoi) ele também manifesta-se em todas as esferas de nossas vidas. No caso de Kauane identificamos uma manifestação indireta do genocídio de sua negritude com a adoção da cultura do embranquecimento para escapar das humilhações e sofrimento. Mesmo Kauane afirmando-se enquanto negra, e, neste caso, negativamente, ela terá poucas chances de conhecer, por meio da escola; a história africana, a cultura negra e as contribuições do seu povo, a fim de apreender a história da humanidade. Sem estes subsídios Kauane dificilmente terá orgulho de sua ancestralidade e se reconhecerá como parte da continuidade que evidencia a forte identidade de resistência[3] do povo negro brasileiro.

Leia a matéria completa publicada na Revista Contemporartes

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